Luciano Milici

{ 1 } Tenha a certeza de que você quer ser escritor.

Escritor não é rockstar, apesar dos gritinhos que ouvimos nas bienais. Está na moda e os gringos sobrevivem da escrita, mas um escritor de verdade, sério, criativo e dedicado sabe que o caminho é pura transpiração e dor. Às vezes, o encanto de uma profissão nos é vendido pela mídia ou pelos filmes de maneira irreal. Note que a maioria dos autores de best-sellers brasileiros tem outra atividade: professor universitário, produtor e etc.

Filtre bem o seu desejo: você quer ser lido apenas? Então, faça um blog. Quer ser publicado? Quer ser admirado? Quer fazer a diferença no mundo? Quer ouvir gritinhos na Bienal? Tenha em mente seu objetivo, respire fundo, pense em Camões escrevendo Os Lusíadas na escura e úmida gruta de Macau e veja bem se tem estâmina para tanto.

{ 2 } Boa história, bem contada e com bom título.

Sua história é boa? Ou você está indo na onda de “adolescente que descobre ser especial e luta contra o regime totalitário em alguma distopia” ou “saga de triângulo amoroso entre seres sobrenaturais”? A gente sabe que Hollywood sobrevive de cópias intermináveis de suas próprias produções, mas quando falamos de livros, não dá certo. Os leitores, a mídia e o mercado estão cada vez mais espertos.

Se sua história é boa, a questão é: você sabe contá-la de maneira criativa? Sabe usar estilos próprios, mesclar metáforas, provocar sensações no leitor? Já pensou em começar in media res? E sobre o título, bom, escolha com sabedoria, pois fará toda a diferença.

{ 3 } Escreva todos os dias e, se puder voltar no tempo, escreva mais nos dias em que já havia escrito.

É Natal? Escreva. Viagem com a família? Escreva. Casamento? Escreva. Apocalipse Zumbi? Escreva. Você é o que você faz. Uma página por dia resulta em uma obra de 365 páginas em um ano. Separe uma hora do dia para fazer aquilo que você diz que é sua vocação e que você decidiu ter como profissão.

Dizem para escrever bêbado e revisar sóbrio. Eu digo: desligue a internet, livre-se dos vícios. Escreva sóbrio e revise ainda mais sóbrio. Se você é criativo, consegue. Disciplina é liberdade, dizia o Renato Russo e, se o mundo acabar, escreva e depois chame o diabo para ser seu revisor.

{ 4 } Leia tudo, principalmente os clássicos.

A vida é muito curta. Jorge Luis Borges dizia que o paraíso deveria ser uma espécie de biblioteca. Ok, mas aí já será tarde, você já terá morrido. Leia agora. Leve um livro com você para todo o canto. Emende um no outro e leia dois ao mesmo tempo, se puder.

Não fique preso a um tipo de autor, movimento, nacionalidade ou período. Varie. Priorize os clássicos porque eles são o alicerce. Entenda o circuito para montar o robô. Claro, há autores de sucesso que dizem nunca terem lido mais que dois ou três livros e, ainda, alegam só terem lido sagas da moda, para seguirem o estilo. Esses passarão como poeira. Você, não. Você lerá as sagas da moda, mas também lerá os clássicos e isso permitirá que você, um dia, se torne um clássico.

{ 5 } Ajude quem está começando.

Existem autores que estão começando a pisar na trilha que você já fez há tempos. Mostre a eles o caminho das pedras, apresente-o às pessoas que puder. Ele não é seu inimigo. Não há share-of-reading na mente do leitor.

Vejo autores que se fecham em panelas e criam barreiras de entradas a novos autores, como se a literatura fosse funcionalismo público. Não é. Se falamos de talento e arte, todo mundo tem as mesmas chances ao mesmo tempo. Auxilie. Fará bem a você também.

Escritor é um animal solitário, mas também pode ser solidário. Desconfie de grupos de autores que se agrupam, se promovem e se protegem. O talento é volátil, não dá para ser contido. Do seu lado, no ônibus, pode estar um Machado de Assis, enquanto na Academia Brasileira de Letras (ABL), entre louros e glória, pode estar um escritor insosso.

{ 6 } Não, você não é um floquinho de neve especial.

Não seja indulgente com você mesmo e crítico com os outros. Acredite em seu potencial, porém, busque a perfeição com humildade. Pesquise para ver se sua história não é batida e se seu estilo não está ultrapassado. Desafie-se todos os dias e melhore-se sempre. Sua ideia não é a melhor só porque é sua. Ser um bom mestre em RPG não significa ser um bom escritor. Filtre os elogios de seus parentes e amigos. O maior inimigo de um escritor é o ego.

{ 7 } Sucesso não é fama, é felicidade.

Ser publicado é bom, mas não pode ser o único objetivo. Ser publicado significa apenas a validação de uma editora, o que não é impossível hoje em dia. O importante é ser relevante e isso começa na sua mente, passa pelas pontas de seus dedos e acaba no coração do leitor. Sem intermediários.

Escritores iniciantes que querem apenas ter suas obras filmadas em Hollywood e traduzidas em klingon; que intentam comprar a mansão da J.K. Rowling ou fazer mais sexo por conta da carreira não são e nem serão escritores. São carreiristas que, se obtiverem isso de outra maneira, deixarão de escrever. O sucesso é ser feliz e a medida para essa felicidade é você mesmo, não o número de likes no Facebook. Dói, eu sei, mas alguém precisava lhe dizer.

Luciano Milici é autor de A Página Perdida de Camões, Diário de um Exorcista (em 2015 nos cinemas), A Canção do Vampiro e outras obras. Publicitário formado pela ESPM com MBA em Comércio Eletrônico pelo ITA/ESPM. É fundador da Gonnafly. Já escreveu hoje e está, neste momento, pensando em alguma nova história. Site oficial.

Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado

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