Davi Paiva

{ 1 } Não use o mantra dos outros. Crie o seu!

Muitos autores iniciantes querem copiar estilos de vida de escritores consagrados (“se Fulano escrevia em um bar, eu devo escrever em um também”, por exemplo) acreditando que ali está a fórmula do sucesso.

O que muitos custam a enxergar é que tais profissionais alcançaram sucesso por diversos fatores: criação familiar, educação escolar, recursos disponíveis, oportunidades oferecidas, jogo de cintura (sim, dependendo do que você diz e para quem diz, portas são fechadas com tanta facilidade quanto podem ser abertas), etc. Portanto, você não pode e nem deve querer ser o novo Dan Brown, por exemplo.

Veja o que cada autor fez para ter ideias, para escrever, para expor, para se definir como autor dentro de um gênero ou tema e crie não só o seu estilo de escrita como o de ser escritor. Demorei muito para definir o meu mantra “leia, estude, escreva, exponha e reescreva. E nunca deixe de viver a vida”, mas valeu a pena.

{ 2 } Defina metas.

Escrever não te faz um escritor da mesma forma que chutar uma bola não te faz um jogador de futebol. Se você é uma pessoa que escreve, você só vai escrever o que quiser e quando quiser, aproveitando as oportunidades que aparecerem na sua vida e ignorando qualquer crítica, construtiva ou não.

Se você quer ser um escritor, vai dormir mais tarde, acordar mais cedo ou almoçar em pouco tempo só para ter tempo e escrever o que precisa, além de procurar oportunidades o tempo todo e investir tempo e dinheiro no seu aprimoramento, ouvindo críticas para ver o que pode fazer pela sua carreira.

Portanto, é importante definir o que espera com a sua carreira de escritor: escrever para guardar tudo no seu computador, para ser lido por quem você quiser, escrever para ser lido por qualquer pessoa, viver parcialmente da escrita ou viver totalmente da sua escrita, sendo reconhecido como um profissional dentro da área.

{ 3 } Seja profissional / aja com profissionalismo.

Enquanto você não consegue aquele tão sonhado contrato milionário com aquela grande editora que vai publicar as suas obras no Brasil e no exterior, busque respeitar o mercado, aceitar as suas regras e ser profissional. Você pode ler obras e não gostar, desde que não transforme sua crítica em um ataque pessoal ao autor.

Da mesma forma, o tempo gasto lendo aquele enorme regulamento do concurso que vai participar será considerado um investimento. Pois você não vai ficar procurando organizadores para perguntar “qual é o prazo de envio?”.

{ 4 } Leia.

Escritor que não lê é como um cozinheiro brasileiro tentando reproduzir um prato típico da Austrália sem conhecer a culinária australiana. Como você quer produzir algo para as pessoas consumirem dentro de uma mídia que nem você consome? Acha que pode escrever um bom trabalho sobre zumbis apenas com que viu no seriado The Walking Dead? Acredita que a estrutura de narração do seriado pode ser reproduzida em livro?

{ 5 } Busque conhecimento.

Muitos autores reclamam quando eu falo da importância de se estudar para escrever alegando que técnicas deixam o escritor engessado, que autor X não estudou para escrever (cópia de mantra!) e/ou que isso é chato. O que penso: ninguém nasce sabendo e toda profissão exige estudo. E como escritor é uma profissão, também exige estudo.

Portanto, recomendo sempre que verifiquem as características do gênero literário (romance, conto, poesia, crônica, etc.) e do tema ou subtema (romance, fantasia medieval, policial, terror, erótico, etc.), além das ferramentas de construção de uma história (abertura, diálogos, cenas, cliffhangers, flashbacks, etc.) e estruturas narrativas (você pode estar cansado de ver a Jornada do Herói, mas ela faz mais sucesso do que você imagina). Conhecimento é sempre bem-vindo.

{ 6 } Escrever é relaxante… mas o mercado editorial não é um spa!

Uma editora não é uma fábrica de sonhos. Ela é uma empresa. E como toda empresa, tem contas e funcionários a pagar, além de investimentos e objetivos. Seja publicar somente livros de poesias ou mesmo arrecadar o suficiente para o editor comprar uma Ferrari. Em ambos os casos, não é crime.

Uma coisa que muitos autores não enxergam é que estamos em um país no qual a população não lê muito, as escolas não formam escritores criativos e muitos autores iniciantes são desrespeitosos com prazos, características da editora ou até mesmo com o próprio trabalho, delegando a função de divulgar somente ao departamento de marketing (!).

Tudo isso se combina e gera um mercado nacional duro de entrar ainda mais quando se é brasileiro. Logo, sempre recomendo a todos que coloquem mais os pés no chão e menos a cabeça nas nuvens. Aqui é trabalho!

{ 7 } Tenha discernimento. Sempre.

Já vi autores conhecidos no mercado que escrevem com um português de quinta série, já vi gente pagando fortunas para editoras que não oferecem nem revisão (o que dirá o copydesk!), já vi antologias com pagamentos que envolviam até 40% do salário mínimo no qual o participante não aprende nada e já vi organizadores de antologias que, quando conheciam as características do gênero ou tema, não ensinam ninguém.

E por que tudo isso ocorre? Porque as pessoas não param e avaliam se os métodos utilizados valem a pena ou não poderiam ser melhores. Avalie o que você mesmo está produzindo, veja se o canal pelo qual publica não pode ser melhor trabalho e se os investimentos empregados até o momento não podem ser empregados em atividades de melhor retorno.

Davi Paiva nasceu em São Paulo, capital, em 1987. É graduado em Letras pela Universidade Cruzeiro do Sul. Participou de várias antologias de contos por diversas editoras. Atualmente é organizador e coautor de antologias em parceria com a Darda Editora e autor do romance fantástico medieval Cavaleiro Negro, publicado pela mesma. Participou das antologias Ponto Reverso (Andross, 2014) e Nação Zumbi (Literata, 2015), entre outras. Foi coautor e organizador da antologia Poderes (2016) e Monstros entre Nós (2017), ambos pela Darda Editora.

Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado

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