{ 1 }
Escrever é agir no mundo. Quando narramos, rearranjamos sensivelmente o mundo, e abrimos novas possibilidades de realidade. Qualquer texto, engajado ou não, é um gesto potencialmente político.
{ 2 }
A significância de um texto está no que ele abre, não no que ele fecha. Sentidos fixados, metáforas determinadas e controle excessivo sobre o universo narrado podem gerar histórias interessantes, mas esvaziam a força da experiência que nasce com uma narrativa.
{ 3 }
Somos o que escrevemos (não o contrário). Colocar-se em narrativa é elaborar identidade, memória, sensibilidade e compreensão. Constituímo-nos na medida em que escrevemos, e sempre saímos transformados do processo.
{ 4 }
O conteúdo de uma história é o seu próprio contar. Não há nada mais arbitrário e enganador do que considerar, em qualquer medida, a distinção entre o “conteúdo” de um texto e sua forma. É preciso levar a sério que uma história contada de outra maneira é outra história.
{ 5 }
É importante dominar a linguagem para subvertê-la. Sejam as gramáticas das línguas, as morfologias das histórias, as estruturas narrativas dos gêneros, um texto é tanto mais rico quanto mais temos suficiente consciência das regras para jogá-las contra elas mesmas.
{ 6 }
Não há metafísica que compreenda a complexidade que envolve as narrativas. Definições essencialistas e muitas vezes dicotômicas do que é ficção ou não-ficção, realista ou fantástico, literatura ou jornalismo… são arbitrárias, históricas e falíveis. É preciso saber o que está em jogo ao sustentá-las, entendendo que questões poéticas e ideológicas elas mobilizam.
{ 7 }
Em um texto, tudo é significativo: cada letra, cada ponto, cada espaço, cada som, cada volume, cada conexão, cada excesso; mas também, cada silêncio, cada sombra, cada falta. Uma narrativa se faz de tudo aquilo que ela narra e tudo aquilo que ela deixa de narrar.
Nuno Manna é jornalista, pesquisador e professor mineiro; mestre em comunicação social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde desenvolve sua pesquisa de doutorado; autor do livro A tessitura do fantástico – narrativa, saber moderno e crises do homem sério; colaborador com reportagens e ficções para a revista Piauí; ministrante da Oficina de Criação Narrativa. Site oficial.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado