{ 1 } A primeira coisa que aprendi com a escrita foi tentar me tornar um sujeito melhor.
A escrita me leva a observar melhor as pessoas, as coisas, as nuances, o mundo. Com ela venho tentando me colocar no lugar do outro, sair do lugar comum. Parece clichê, mas eu tento me tornar um sujeito melhor a cada dia e a literatura me faz repensar quem sou, o que sou, onde estou. Cada vez que abro um livro, além da sensação boa de algo novo e inesperado que me acompanha, aprendo pouco a pouco a me tornar esse sujeito que consegue olhar com apuro para dentro de mim mesmo. Sinto-me um leitor melhor, um analisador melhor, um ser humano melhor.
Ando relendo alguns autores como a Clarice Lispector, que sempre me acompanhou, e o Caio Fernando Abreu (Morangos Mofados); esta é a terceira vez que releio Morangos e o impacto é quase o mesmo da primeira leitura; claro que com o olhar mais aguçado, observando as nuances, detalhes, procurando outras saídas para as minhas percepções. Coisas que só a leitura nos dá. Assim é quando vou escrever: as ideias flutuam, saltam e meticulosamente vou reunindo-as para que as histórias possam acontecer.
À medida que envelhecemos, e isso é fato, temos dois caminhos a tomar, ou engessamos ou mudamos a rota dos acontecimentos. Os livros sempre foram meus companheiros nessa caminhada. Escolher talvez seja uma maneira digna de não engessar. Aprendo a cada dia com a escrita para desenvolver essa “liberdade” e a comunicação me traz esse livre arbítrio. A leitura e a escrita me ensinam a ver o mundo com olhos de eterno aprendiz, sim, olhar o mundo como se estivesse abrindo um novo livro.
{ 2 } Aprendi a lidar com a indiferença.
Quando comecei a escrever, ainda na adolescência, escrevia para mim, coisas que eu guardava e de vez em quando relia. Hoje estou abrindo as gavetas e deixando que as histórias abram suas asas. Elas vão, livres, e eu perco todo o controle dessas ideias, já não me pertencem apenas, são de muitos, cada pessoa se torna coautor. Uns vão amar, outros odiar, isso não me importa; quero que as histórias sigam seus caminhos livres; eu estou livre e por isso lido bem com a indiferença, para que a minha escrita seja livre também.
{ 3 } Aprendi a não ter medo do desconhecido.
Escrever para mim não é terapia, mesmo que por muitas vezes exorcize os meus fantasmas e as minhas angustias. Escrevo porque sinto o que penso, não cálculo os sentimentos, as ideias surgem e as palavras fluem, há um encaixe dentro dessa maneira desordenada de lidar com o desconhecido.
Gosto do exercício da escrita, de andar pela casa procurando formas de expressões, discutindo com as ideias e aos poucos juntando tudo num mesmo pedaço de papel. Quando um crítico ou um leitor reconhece esse desafio, fico satisfeito. Escrever é um ato de coragem.
{ 4 } Aprendi que a leitura é imprescindível.
Eu sempre fui um leitor voraz, gosto de ler de tudo, dos clássicos aos contemporâneos; os livros são muito bem vindos. Para mim esse é um dos grandes momentos na vida: ler. A leitura é a melhor forma de entender a relação do homem com o mundo.
{ 5 } Aprendi a ter paciência.
Sempre que escrevo e fico pela casa circulando com as ideias borbulhando na cabeça, deixo que o tempo se encarregue de fazer a sua parte; aos poucos vou desacelerando o ritmo para espiar o que ficou no papel. É um trabalho árduo, ao mesmo tempo prazeroso, reler, ler, analisar, entender, ajeitar uma vírgula, uma intenção, acertar um parágrafo. Esse tempo de paciência é primordial para que o texto expresse tudo o que o escritor quer contar.
{ 6 } Aprendi a ser espontâneo.
A escrita me faz relaxar algumas vezes; esse é o melhor momento: escrever. Lembro-me de uma frase da Clarice Lispector que diz: “Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.” A minha relação com o ato de escrever é ser espontâneo com as palavras, é desabrochar, sentir prazer e deixar fluir.
{ 7 } Aprendi a lidar com a página em branco.
Este foi o melhor dos aprendizados, mas que todas às vezes eu penso que nunca aprendi de fato: lidar com a página em branco! Sempre que as ideias borbulham na cabeça e a vontade de escrever é tamanha, surge o inesperado: você sabe o que quer dizer, mas não consegue escrever uma linha no papel.
Com o tempo e uma dose de paciência você acaba dominando a situação, a relação com o papel em branco se dilui e logo tudo vai fluindo. Exercício, exercício, ler, reler, todos esses movimentos são necessários para que o escritor possa vencer os desafios que se apresentam. Eis alguns dos aprendizados que a escrita nos dá..
Alex Andrade é carioca, estudou artes cênicas e arte educação. Leciona para crianças e jovens e é um dos escritores que faz parte do projeto “Praça da Leitura” que leva o incentivo à leitura para novos leitores. Publicou seis livros, entre eles o elogiado Poema, que apesar do título trata-se de uma coletânea de contos. Em 2014 publicou, junto à editora Confraria do Vento, o livro Amores, truques e outras versões. Site oficial.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado
Alex,
Acompanhar o seu trabalho se tornou indispensável; traz-me sempre a surpresa e o aprendizado! Continue produzindo muito, pois sua escrita está cada vez mais encantadora! Parabéns!