Christopher Kastensmidt

{ 1 } Paciência.

Passaram-se vinte anos entre a minha primeira submissão de ficção e a minha primeira publicação.

Agora tenho quarenta publicações em onze países, prêmios internacionais e editores do mundo inteiro pedindo mais das minhas histórias.

{ 2 } Paciência.

O autor iniciante adora culpar os editores que não aceitam suas histórias. A verdade é que editores só rejeitam histórias porque têm melhores histórias para colocar no lugar. O autor que tem que escrever a história “irrecusável”. E não é fácil.

Ninguém cria aquela história irrecusável na primeira tentativa, nem na segunda, nem na terceira. Demora anos e centenas de milhares de palavras para o autor desenvolver aquele estilo único.

Não existe caminho curto. O melhor exercício para aprender a escrever é ler e o segundo é escrever. Repita todos os dias.

{ 3 } Paciência.

Não é sempre que o autor iniciante procura o melhor caminho para publicação, mas sim, o mais rápido. Existem dezenas de chamadas para concursos e antologias nacionais em que o autor pode ser publicado sem ônus financeiro, mas autores recebem uma ou duas rejeições e logo pagam alguém para publicar sua obra.

Este autor perde três vezes: o dinheiro, a possibilidade de aprender com uma equipe editorial e a felicidade de saber que finalmente chegou ao ponto de ter criado uma obra capaz de ser selecionada entre as demais.

Recebi centenas de rejeições até hoje. Algumas das minhas obras levaram três ou quatro anos para serem publicadas, acumulando pilhas de rejeições ao longo do caminho. A reação certa para qualquer rejeição é de escrever mais uma história.

Na verdade, não é nem para esperar a rejeição, é de nunca parar de escrever. O verdadeiro escritor sabe que o ato de produzir é o mais importante. Se acontecerem publicações ao longo do caminho, é a cereja do bolo.

Para o autor que está sempre escrevendo, sempre se aprimorando, as publicações vão começar a aparecer em algum momento, prometo.

{ 4 } Paciência.

O autor iniciante gosta de imaginar que vai publicar sua primeira obra e ganhar fama e riqueza instantâneas, com legiões de fãs correndo atrás dele na rua, todos jogando notas de cem reais aos seus pés.

Os autores que conheço que conseguem viver da escrita é porque publicaram MUITAS obras ao longo da carreira. O público precisa de muito tempo para conhecer, ler e recomendar o autor. Normalmente leva uns dez anos de produção e publicação constante.

Para quem não acredita, é bom falar com aquele autor de carreira durante a próxima feira do livro local e perguntar quantos anos o levou para chegar ao patamar de viver da escrita. Vai se surpreender. A melhor maneira de aumentar as vendas de um livro não é com publicidade, é de colocar o próximo livro na prateleira.

{ 5 } Humildade.

Não é todo leitor que vai gostar das suas obras, e não há nenhum problema nisso. O autor tem que aprender a separar a sua obra do seu ser. O livro, por mais que algumas pessoas dizem ao contrário, não é seu bebê, não tem seu DNA. É a produção de um único momento da sua vida, e suas opiniões (e talentos) podem mudar radicalmente mais adiante. Aceite as críticas, aprenda com elas, e vá adiante.

{ 6 } Humildade.

O bom escritor busca as críticas antes da publicação. Nunca submeto um texto sem pedir leituras críticas de várias pessoas. Já recebi centenas de críticas e dei centenas de críticas em troca. Estes dois atos, de dar e receber as críticas construtivas, são as duas coisas (além de ler e escrever) que mais melhoraram a minha escrita até hoje.

{ 7 } Felicidade.

É um caminho longo, sem atalhos, mas trilhar este caminho pode trazer ao autor alguns dos momentos mais felizes da sua vida. Terminar o primeiro conto. Terminar o primeiro livro. Ter sua primeira publicação. Festejar o primeiro lançamento. Receber a primeira mensagem de um fã. Conhecer pessoas com gostos parecidos e criar amizades que podem durar uma vida.

Quanto mais suadas estas pequenas vitórias, mas deliciosas elas se tornam.

Christopher Kastensmidt é professor e escritor, especialista em narrativas digitais, jogos digitais e literatura fantástica. As obras de ficção e poesia do Christopher já foram publicadas em onze países.

Em 2010, ele foi finalista do Prêmio Nebula, o principal prêmio de literatura fantástica do mundo. Ele é membro da organização profissional de escritores SFWA (Science Fiction and Fantasy Writers of America), e é convidado frequentemente a palestrar em eventos literários dentro e fora do Brasil, como a Convenção Mundial de Ficção Científica, a Jornada Nacional de Literatura e o Simpósio de Literatura Fantástica.

Ele foi idealizador do Concurso Hydra (2011), uma iniciativa de expor autores de literatura fantástica brasileira no exterior e foi coorganizador da Odisséia de Literatura Fantástica (Porto Alegre, 2012), um evento para promover autores nacionais do gênero fantástico. Site oficial.

Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado

4 thoughts on “Christopher Kastensmidt

  1. Gostei muito e me animou a continuar com PACIÊNCIA… muita paciência porque tudo nessa vida leva tempo, principalmente as coisas boas. 🙂

  2. Pingback: “7 coisas que aprendi” por Brontops Baruq | Terracota

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