{ 1 } Revisão se faz depois de escrever.
A afirmativa parece lógica, mas nem sempre é praticada. Alguns escritores ficam tão obcecad@s com a construção da frase ou do parágrafo perfeito que podem gastar horas em frente à tela (ou ao papel) refazendo o trecho. Pode ser um método que funcione para muitos, mas a verdade é que muitas vezes é mais um mecanismo de fuga do que uma técnica de trabalho.
Não creio que a criação seja fruto daquela coisa mítica chamada inspiração, acho que ela pode brotar de algum ponto meio etéreo dentro da cabeça de quem escreve ou surgir da leitura atenta que o autor faz do meio onde se move. E para que se cumpra o percurso entre a ideia e o texto, é preciso liberar o fluxo.
Assim, escrever por algum tempo sem amarras e sem filtros (e sem distrações!) me parece hoje uma condição necessária para que surja um texto a ser revisado.
{ 2 } Ideias não viram histórias se não forem escritas.
Mais uma obviedade, eu sei, mas quantas ideias geniais para aquele novo conto ou para o capítulo crucial do seu romance você não teve enquanto esperava na fila do supermercado ou quando o engarrafamento te surpreendeu sem nada para ler no ônibus?
Talvez as ideias não fossem assim tão geniais, mas poderiam ter sido desenvolvidas e ter gerado algum fruto suculento, não fosse a traição da sua memória, que nunca mais conseguiu reconstituir a sequência de palavras ou a cena vislumbrada, pois você estava longe do seu teclado e nem mesmo o smartphone com aquela bosta de teclado virtual veio te socorrer?
Depois de muitas dessas perdas (que jamais poderei verificar se tinham mesmo algum valor), aceitei o conselho de ter sempre comigo algum bloco para anotações. Não aproveito tudo que anoto, mas tudo que escrevo costuma se desenvolver a partir dessas notas.
{ 3 } As leis da física são implacáveis.
A maioria das leis da física que conhecemos e compreendemos (há uma infinidade delas que minha inteligência não abarca) afeta nossa existência como escritores. O tempo, mesmo que seja uma convenção, corre e flui na vida dos mortais em uma direção única (tudo o que já tenhamos lido e assistido sobre o rompimento dessa premissa não vai nos socorrer) e nossos corpos não ocupam mais de um espaço ao mesmo tempo.
E por quê seguir dizendo o óbvio e ululante? Porque mesmo quando nos vangloriamos da habilidade para realizar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, mentimos – ao menos no campo da leitura e da escrita. Apenas estamos levando mais tempo para realizar várias coisas em um determinado intervalo de tempo, fracionando nossa energia ao alternar entre uma e outra(s) ação(ões). Todos os segundos que deixamos de trabalhar no texto para espiar e-mails ou redes sociais são um tempo não dedicado à escrita e que nos tirou concentração e ritmo.
Assim, insisto, aquelas duas horas que ficamos em frente ao computador, alternando entre diversas janelas NÃO foram duas horas de escrita. Sejamos honestos. Talvez tenham sido quinze minutos de escrita e muitos outros de relax, informação ou puro desperdício mesmo. E esse tempo não é passível de recuperação.
Podemos contra-argumentar que escritores iniciantes, independentes ou não, precisam investir em divulgação e as redes sociais são obrigatórias, mas é preciso ponderar para que o tempo gasto em divulgação não seja muitas vezes superior ao dedicado à elaboração. Quem perde se isso acontece? Adivinha! Esse é um aprendizado contínuo, sigo perseguindo-o, com erros e acertos.
{ 4 } Aceitar críticas ao texto é mais valioso do que se refestelar com os elogios.
Uma das grandes dificuldades na vida do escritor é encontrar leitores críticos capazes de apontar, com honestidade, os pontos falhos e as melhoras partes do seu texto, do ponto de vista de quem interessa: o leitor.
Se você conseguiu alguns preciosos representantes dessa categoria rara – o leitor honesto, atento e disposto a dar sua opinião –, não desperdice a sorte ficando magoadinh@ com alguma crítica que não afagou seu ego. Mas e se a crítica for amarga e destruir seu texto!? Respire, guarde o texto para ler dali a alguns meses, como se não fosse seu. Quando o rever, talvez dê razão à crítica. Se não for o caso, siga trabalhando e bola pra frente.
Mas um mesmo texto pode ter recepções muito distintas e inclusive opostas. Assim, caberá sempre ao autor e à negociação entre seu ego e seu senso de realidade, quais críticas acolher. A regra de ouro é que…
{ 5 } Arriscar é obrigatório.
Participar de concursos literários, enviar material para editoras, enviar projetos para editais de cultura significa que você vai receber muitos nãos ou ficar esperando por respostas que custam ou não chegam, mas é um caminho que, além de reservar eventuais surpresas, te leva a outros resultados além de um possível prêmio, publicação ou ambos.
Além de ter sido finalista e até premiada em alguns certames e de ter conseguido publicar um livro especialíssimo via edital de cultura, ganhei (e ganho) muitas coisas com a rotina de participação em concursos. Só para citar algumas: a possibilidade de ser lida por jurados relevantes no mercado editorial; o aprendizado que vem do exercício de escrever sobre temas específicos; a disciplina de escrever com maior frequência; a resiliência diante do insucesso.
Resumindo: arriscar é o único caminho com chance de te fazer escrever melhor e ser lido.
{ 6 } Ser lido é melhor que ser aplaudido.
A vida virtual algumas vezes pode gerar falsas impressões sobre muitas coisas, inclusive sobre a importância ou alcance da nossa escrita. Sou um tanto cética quanto a número de likes e compartilhamentos – para bem e para mal.
Já alcancei, em algumas ocasiões, um número razoável de downloads de e-book, ou de likes em postagens, e até de compartilhamentos. Mas no geral, isso não é sinônimo de que um conto foi lido. Como posso afirmar isso? Não é preciso ir muito fundo… com a ajuda de ferramentas como Google Analytics e os gerenciadores das plataformas de autopublicação isso pode ser verificado, ao menos em parte.
Falei disso porque o que realmente importa é ser lido, não ser “curtido” (ao menos suponho que seja assim para todos que escrevem).
{ 7 } Escrever (e descartar, se necessário).
Dia desses um amigo que colabora para o canal Entre Contos no YouTube postou um vídeo com título provocativo. Supostamente as dicas para escritores pecavam pela supervalorização da necessidade de ler muito.
O vídeo é divertido, mas o que vale é algo que o Fabio enfatiza: “a única coisa que um escritor tem de fazer pra c%$#@h* é escrever pra c%$#@h*”. Claro que ler é fundamental, mas se o objetivo é escrever, esta é a prática necessária. E não necessariamente escrever apenas ficção.
Pode ser escrever mails longos (lembram de quantos livros com a correspondência entre escritores e artistas já foram publicados? Alguns geniais, aliás), palpites sobre filmes, sobre o tempo que faz lá fora, sobre o dia desastroso ou felicíssimo. Escrever. Não é preciso postar em blogs ou em qualquer lugar. É preciso apenas escrever.
Pintores pintam, testam diferentes tintas, pincéis e telas. Escultores trocam ferramentas, rochas ou metais para obter diferentes formas e efeitos. Músicos fazem combinações de instrumentos, ritmos. Assim, escritores… bem… usam palavras. Escrevem. Muito. As vezes sai algo bem afinado, de forma harmoniosa, com cores instigantes. Outras vezes podemos rasgar e começar de novo.
Maurem Kayna é engenheira e escritora (afirma que talvez um dia a ordem se altere), baila flamenco e vem publicando textos em coletâneas, revistas e portais de literatura na web há quase uma década, além de apostar na publicação “solo” em eBook desde 2010. A seleção de contos finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2009 – Pedaços de Possibilidade, foi seu primeiro eBook; depois disso, houve uma série de experiências com autopublicação, testando ferramentas de edição de e-books e plataformas para publicação independente. Em 2014 se deu a publicação de seu primeiro livro impresso, Labirintos Sazonais, que nasceu como um projeto de literatura digital. Site oficial.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado