{ 1 } Seja uma pessoa cultural.
Procure saber o que aconteceu e está acontecendo no mundo das artes. Intertextualidades são sempre bem-vindas: um texto, se conversa com outro texto (entendamos texto como qualquer forma de arte), só fica mais rico. Veja filmes, vá a museus, assista shows, ouça álbuns de música e, principalmente, LEIA.
{ 2 } Leia tudo. Leia sempre.
Um escritor se faz comendo outros escritores. Não tem como escrever no vácuo. A leitura é essencial por inúmeros motivos: conhecer a história da literatura; analisar estéticas de outros escritores; internalizar a estrutura das escolas literárias; entender como são aplicadas as construções estéticas; aumentar o seu vocabulário; e infinitas outras razões. Ler nunca é demais.
{ 3 } Procure conhecer a teoria literária.
Quando eu entrei na Faculdade de Letras, vi muita gente falando que eu iria ‘perder o tesão pela escrita’, por causa dos vícios acadêmicos e principalmente da tão terrível Teoria da Literatura. Balela! Estudar teoria literária abriu meus olhos para muitas coisas. É muito bom para o escritor ter consciência do que ele está fazendo, com o intuito de fazer ainda melhor.
A teoria me colocou no meio das engrenagens literárias, e eu pude analisar melhor a literatura de dentro pra fora. Porém, não é assim com todo mundo. Caso você estude e fique receoso, busque outras vertentes. Mas, de qualquer forma, valerá a pena – conhecimento nunca é demais.
{ 4 } Leve a literatura a sério.
É um trabalho árduo e difícil, digno como todos os outros. O que muito me irrita nos dias de hoje é ver a falta de valorização da área de Letras. Esse é um ofício complicado, por tocar em temas tão íntimos e tão humanos. Ser um profissional da literatura é ter o coração pisoteado todos os dias, é absorver as melancolias alheias, é abraçar a dor do outro… constantemente. E só pessoas fortes conseguem fazer isso.
{ 5 } Não acredite em inspiração.
Literatura se faz pela labuta na linguagem. Mas vamos com calma: primeiro, façamos a divisão essencial entre forma e conteúdo. Qualquer um escreve conteúdo – uma história que seja, uma reportagem, uma redação de escola. Já a literatura mora na forma. Na estética. Na estrutura e na construção.
O texto literário se caracteriza pela subjetividade, aquele quê especial que o faz humano e único. Você pode se inspirar em relação aos conteúdos, mas, para as formas, jamais. O literário mora no trabalho nas palavras, no uso das figuras de linguagem, na marca pessoal e intrínseca do seu escritor. Escrever é escolher cuidadosamente qual palavra usar. E isso não é inspiração: é fruto de muito trabalho.
{ 6 } Seja aberto a críticas.
Somos seres humanos, passíveis de erros e falhas. Às vezes, não temos a maturidade – literária ou de vida – suficiente para perceber o que precisa melhorar na nossa escrita. Portanto, mostre seu arquivo a pessoas que você considera qualificadas, ou que simplesmente pensam de outro jeito. Ouvir a opinião de alguém que possui outra visão de mundo pode fazer toda a diferença.
{ 7 } Não tenha medo de escrever.
Essa última dica deve ficar sempre na sua cabeça. A literatura assusta. É uma estrada tortuosa, incerta, por vezes até traiçoeira; mas que vale a pena. Não se deixe ser abalado por opiniões depreciadoras – acredite, elas vão existir. E vindas de muitas pessoas. Porém, se você é apaixonado pelo êxtase literário e sente que nasceu pra fazer isso, vá em frente. Quando perceber o poder transformador e revolucionário que as palavras possuem, ninguém conseguirá te segurar.
Bruna Kalil Othero tem 19 anos e estuda Letras na UFMG, com ênfase em literatura e teatro brasileiros. Já teve um poema publicado na antologia Sarau Brasil, e três na Revista Digital O”. Escreve no site da obvious magazine e vai lançar seu primeiro livro de poesia, Poétiquase, ao fim desse ano, pela Editora Letramento.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado
Concordo com tudo, exceto o terceiro ponto. O curso de Letras mata mais escritores do que os cria. Na verdade, percebemos que a importância desse curso na formação de um escritor tende a zero quando estudamos a vida dos grandes. Afinal, quantos deles se graduaram num curso superior de Literatura?
Guimarães Rosa era Médico, Nelson Rodrigues nunca chegou à faculdade, Kafka era advogado, Borges não se graduou em nada e Fernando Pessoa… Esse sim fez Letras, mas abandonou o curso antes de concluí-lo.
Acredito que em alguns casos a formação em literatura possa até influenciar positivamente na carreira literária (esse parece ser o caso desta autora), mas na maioria das vezes está longe de ser imprescindível.
Ei, Gutto. Fiz considerações semelhantes sobre o assunto neste post: É preciso fazer faculdade para ser escritor?
Já conferiu?
Abraços.