{ 1 }
É preciso saber português. Até pra fingir que não sabe, é preciso saber. Só transgride ou se licencia quem sabe o que está transgredindo. Pega mal dar na cara que não sabe. Tem de rolar uma intimidade com a língua.
{ 2 }
Quem escreve bem não apenas lê muito, mas também escreve muito. Essa conversão não é automática. Não adianta ler autor bacana achando que vai sentar e fazer igual. Ou que vai ser genial assim, só na osmose. Tem de escrever, cortar, reescrever, desistir, insistir, persistir, estudar, experimentar.
{ 3 }
Muitos mecanismos estão envolvidos nessa coisa de alguém ser escritor, escritor reconhecido, escritor conhecido, escritor de verdade, escritor para além da moda, escritor artista, escritor consagrado, etc. Não basta ter um texto maravilhoso. Às vezes, nada acontece. De outro lado, tornar-se escritor fodão pode não ter a ver com ter um texto maravilhoso…
{ 4 }
Seria interessante só publicar depois de certa cautela. Mas isso não adianta falar.
{ 5 }
É possível escrever na alegria e na tristeza. No barulho, talvez não dê. Não termina em pizza; termina em escrita.
{ 6 }
A escola não fará o serviço completo. É sorte encontrar pelo caminho um professor de língua ou de literatura realmente apaixonado. Nunca encontrei, por exemplo. A palavra é autonomia. Outra: curiosidade. As coisas mais legais provavelmente não cairão no seu colo.
{ 7 }
O Brasil tem uma máxima curiosa que é dita para bandidos, mas serve pros escritores: escritor bom é escritor morto. Não leve isso a sério nunca, sob pena de você não levar a sério a produção contemporânea bacana. E mesmo sob pena de você não se levar a sério e ir fazer, sei lá, Engenharia, pra nunca mais voltar.
Ana Elisa Ribeiro é mineira de Belo Horizonte, onde nasceu em 1975. É professora do CEFET-MG, onde dá aulas de Redação no Ensino Médio e de várias outras coisas na graduação, no mestrado e no doutorado. É doutora em Linguística Aplicada pela UFMG.
Tem coluna no Digestivo Cultural desde 2003, às sextas-feiras. Publicou mais de uma dezena de livros, entre acadêmicos, infantis e literários, entre estes Meus segredos com Capitu (Natal, Jovens Escribas) e Anzol de pescar infernos (São Paulo, Patuá), ambos semifinalistas do prêmio Portugal Telecom de 2014. Vem mais livro por aí em 2015.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado
Não sou escritora, nem candidata. Sequer estagiária.
Nem mesmo escrivã, a da vã escrita.
Mas gosto de assistir e parabenizo.
Nessa condição, ainda posso fazer uma pergunta?
Por que 7?
Por que cabalístico?
De ter lido aqui e ali o testemunho de artistas escritores, sei uma coisa:
a palavra tem de decantar para purificar. Assim como se deixa o pão
caseiro descansar prolongadamente na fôrma, antes de colocá-lo
para assar.
É isso.
Meu nome? Corina.
Por que não sete? 🙂
Abraço.