Não diria que abaixo estão listadas sete coisas que aprendi, mas que estou aprendendo, investigando, esmiuçando para, então – e só então -, as apreender. Torço para que este empirismo que me acompanha seja útil para outros, e que estes outros o aperfeiçoem ainda mais. Ou, num golpe de sorte para o qual eu seria eternamente grato, concebam a teoria que lhe falta.
{ 1 } Literatura é solitária, mas não se esqueça de ombrear-se.
Escrever é, por definição, um ato solitário. Mesmo que você o considere um ofício, uma paixão, um talento, uma necessidade, etc. Não importa; diante da página em branco estarão apenas você e seus monstros. Mas esse imperativo não pode obscurecer o fato de que outros estão, como você, escrevendo, também solitários com seus monstros.
Conheça seus contemporâneos, saiba quem está contando o mundo que vivemos hoje, e quem hoje está imaginando outros mundos. Interesse-se pela literatura dos seus amigos e inimigos e, sempre que possível, construa pontes até eles. A literatura é solitária, a cena literária não.
{ 2 } Transpire, mas acima de tudo, pire.
Aquele papo de que blá-blá-blá é 90% transpiração costuma estar certo. Infelizmente, ele também se aplica no caso da literatura, e particularmente da poesia. Mas de nada vale um mar de suor se nesse mar não tiver ondas pra surfar ou, pelo menos, pegar jacaré. Pire, leve sua insensatez a sério, embrenhe-se nela; afinal ela é, muito provavelmente, sua melhor matéria prima. Isso nos leva até a próxima sugestão.
{ 3 } Crie uma rotina de trabalho e depois a esculhambe.
Escrever diariamente é muito, mas muito importante. Organizar sua rotina para libertar algumas horas exclusivamente para seu processo criativo é essencial. Só não deixe que isso se torne mais uma implacável rigidez. Deixe que a história que você está escrevendo te chame, venha sussurrar umas besteiras no pé do ouvido.
{ 4 } Escolha a dedo seus vícios.
Café, chás, açúcar, álcool, chicletes, maconha, chimarrão, tabaco, kryptonita, etc. É comum – e eu iria adiante, é recomendável – que você tenha um parceiro de mesa, mas lembre-se que cada substância possui um temperamento diferente e forte. Saiba o que pode te ajudar ou te estrepar quando estiver escrevendo. O que significa dizer: experimente!
{ 5 } Dê tempo a seus personagens.
Existem cenas que pipocam nas ideias absolutamente prontas. Elas surgem de repente, no sonho, no banho, na privada, durante uma discussão com a namorada ou namorado. O trabalho, nesse caso, é organizá-la. Mas há cenas, enredos e personagens que precisam de tempo, que exigem que oxigenemos os pensamentos. Não se incomode ou se doa por eles, matute com paciência – e persistência – os nós que sem dúvida aparecerão.
{ 6 } Mãos de tesoura.
Corte, recorte, corte de novo e de novo. Confesso que este ainda é um drama em minhas histórias; costumo sentir cada talho no texto como um rasgo na carne. Acho difícil cortar, por isso meus textos usualmente ultrapassam o limite do razoável. E ultrapassar esse limite nem é o pior nisso tudo, mas rechear seu texto de inutilidades, de detalhes pouco relevantes ou mesmo de imprecisões. Seja impiedoso e tesoure muito até a derradeira versão!
{ 7 } Esqueça tudo isso e faça do seu jeito.
Não se prenda a regras, sugestões e dicas de escritores como eu. Leia-as, pense a respeito e, como uma boa dialética, construa as suas. O fundamento da poesia é a rebeldia, como bem escreveu Mario Benedetti. Portanto, rebele-se!
Júnior Bellé é poeta e jornalista. Publicou de forma independente o primeiro livro de poemas, O Sonhador Que Colhe Berinjelas na Terra das Flores Murchas. Sua mais recente obra é Trato de Levante, poesia publicada pela Patuá. Na não ficção estreou com Balaclavas & Os Profetas do Caos (Livro Novo). Costuma escrever regularmente para as revistas da Cultura e Status, e, esporadicamente, para Piauí, Super e Playboy. Site oficial.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado