André Timm

{ 1 } Inspiração não existe sem disciplina.

A imagem do artista, no imaginário coletivo, é a do sujeito que quando menos se espera é tocado pelos deuses e agraciado com ideias geniais. Essa concepção de inspiração é uma ideia romântica. Pode ser que em alguns momentos boas ideias apareçam sem nenhum esforço, mas quem espera construir uma trajetória constante e consistente, na literatura ou em qualquer outra atividade artística, não pode contar com momentos divinos de iluminação.

Quando você tem um contrato com a editora, quando escreve para uma coluna em um jornal ou tem um prazo para entregar aquela resenha, para citar apenas alguns exemplos, não há outra forma: você precisa sentar e escrever. Rotina é a melhor companheira da inspiração, elas andam juntas e se dão muito bem.

{ 2 } Cada escritor tem seu método.

Há um espaço na minha biblioteca (e no meu Kindle) dedicado somente para os livros de escrita criativa. São dezenas de métodos, diferentes abordagens e uma infinidade de dicas e lições sobre como escrever. Pode ser que você dê a sorte de encontrar uma fórmula que sirva exatamente para você.

No entanto, pela minha experiência, me parece ser mais provável que você, ao longo de seu desenvolvimento enquanto escritor, colete fragmentos de diferentes lugares para desenvolver seu próprio método, que inclusive pode ser diferente dependendo daquilo que você está escrevendo. Portanto, é válido aprender a partir de diferentes abordagens, só não se pode travar se algumas delas não estiverem ajudando.

{ 3 } O mercado é injusto, acostume-se.

O mercado literário/editorial é uma réplica do mundo em escala. Por isso, não espere justiça. Ao invés de ficar se lamentando porque aquele escritor supostamente medíocre tem contrato com uma grande editora e você não, foque na sua produção e procure estabelecer uma rede de contatos qualificada.

Não significa que vai dar certo, mas as chances aumentam quando você “dá a sorte” de estar no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas e ainda por cima com um bom trabalho em mãos.

{ 4 } Criar narrativas ficcionais exige técnica.

Se você é um gênio que nunca precisou estudar nenhuma técnica de construção narrativa para conceber boas histórias, esse tópico não é pra você. No entanto, se você faz parte do grande grupo de mortais que não foram abençoados pela Musa, então é boa ideia estudar. Compre livros de escrita criativa, assine o feed de sites como esse e se você tiver amigos escritores, troque ideias e produção com eles.

{ 5 } Combine autodidatismo com oficinas.

Livros e sites sobre o tema são ótimos, mas não substituem a experiência de participar de oficinas de escrita criativa, que são uma excelente oportunidade de aprender diretamente de quem já tem uma trajetória e muito a compartilhar, não apenas em relação à técnica, mas também sobre o próprio mercado editorial. E mais, nas oficinas você tem a chance de ter seu trabalho avaliado na hora, o que é um recurso muito valioso. Se houver aspectos em sua produção que você pode melhorar (e sempre há, não?) você saberá ali, na hora.

Além disso, vai acrescentar mais algumas pessoas a sua rede de contatos. E, é importante lembrar ainda que não raras vezes oportunidades de publicação surgem em oficinas. Finalmente, vale ressaltar que nem todas as oficinas são presenciais. O Ficção em Tópicos, por exemplo, projeto do escritor Diego Schutt, que já passou por aqui, tem um fantástico curso de escrita criativa online chamado Jardineiro de Ideias. Tem todas as vantagens de uma oficina presencial, com a grande vantagem de você não precisar sair de casa.

{ 6 } Tenha amigos escritores.

E de preferências, alguns que já tenham um pouco mais de experiência que você, embora isso não seja determinante. Ter amizades literárias possibilita que você troque produções com seus colegas de ofício, além de poder contar também com ombros amigos para dividir os dilemas da profissão. Frequentemente, uma opinião qualificada de quem está de fora pode apontar aspectos em sua história que você não percebe pelo simples fato de estar muito envolvido com ela.

{ 7 } Saiba a hora de começar a escrever.

Cuidado para não cair em duas das maiores armadilhas da procrastinação: a eterna pesquisa e o perfeccionismo fora de hora. Há um momento em que você realmente precisa pesquisar, mas se não souber a hora de parar, você facilmente perde dias, meses, talvez anos até se dar conta que pesquisou muito e produziu pouco ou nada. O mesmo vale para o perfeccionismo fora de hora.

Não seja crítico enquanto escreve a primeira versão, exceto se você consegue fazer isso sem travar. Mas se não for seu caso, deixe para a edição. No primeiro rascunho, permita que flua. Não pare para achar a palavra certa, a melhor construção de uma frase ou o tom mais natural para aquele diálogo. Quando somos exigentes demais nos primeiros momentos de um texto podemos nos frustrar e acabar desistindo dele. Comece com um pedaço bruto de material que você vai lapidando até chegar a uma peça trabalhada.

André Timm é natural de Porto Alegre. Em 2010, recebeu menção honrosa no Prêmio Sesc de Literatura por seu primeiro livro de contos, Insônia, publicado pela Design Editora em 2011.

Em 2014, teve parte de seu trabalho selecionado para integrar a revista Machado de Assis, uma publicação da Biblioteca Nacional que tem como objetivo divulgar autores brasileiros para o mercado editorial internacional.

É criador do site 2 mil toques, cujo objetivo é mostrar as rotinas e processos envolvidos no dia a dia de escritores brasileiros. Com formação em Letras e Especialização em Literaturas do Cone Sul, pela Universidade Federal da Fronteira Sul, atua também como planejador, social mídia e redator em propaganda. Atualmente, trabalha em seu primeiro romance. Site oficial.

Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado

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