{ 1 } Leia.
Se você quer ser escritor e acha que não leu o suficiente na vida, você está certo: você não leu o suficiente na vida. Então, pare tudo e leia. Por semanas, por meses, por anos. Passe mais tempo fazendo isto do que qualquer outra coisa. Somente excelentes leitores se tornam excelentes escritores.
{ 2 } O romance que importa é o que você escreve, não o que você vive.
Os apelos estão aí. Páginas de histórias de como foram duros, pobres e ébrios os dias de Bukowski até escrever suas primeiras páginas. A vida aventureira e repleta de viagens e jazz que antecedeu a formação literária de Jack Kerouac. Os dias repletos de anarquia, boemia (e Paris) de Henry Miller até sentar o dedo no teclado. Mas você não se torna melhor escritor por que sua vida é ou foi uma grande aventura, o dinheiro é ou foi pouco e a bebida e drogas são ou eram muitas. Você se torna escritor quando consegue escrever grandes frases e, com elas, grandes histórias.
{ 3 } Pertencer é bom, mas escrever vai continuar sempre sendo fundamental.
As redes sociais só intensificaram o que sempre existiu: a formação de grupos, comunidades ou panelinhas. Um grupo de escritores sempre pronto para enaltecer o trabalho de um membro, de forma automática. Se a sua presença em um grupo como este não servir para receber retornos críticos em que você realmente confie, de nada adianta sua presença. Melhor será gastar menos tempo socializando e mais tempo se aprimorando. É de palavras/dia que se chega a excelência na escrita.
{ 4 } Se começou, termine.
Não pare de escrever o conto porque quer logo partir para o romance. Não pare de escrever o romance porque não aguenta mais aquele universo e aqueles personagens. Se começou algo, vá até o fim. Mesmo que seja para guardar na gaveta.
{ 5 } Escrever é um trabalho como qualquer outro.
Um pedreiro não deixa de levantar muros por que está entediado. Um assessor financeiro não deixa de prestar assessoria financeira porque quer assistir ao último episódio de sua série preferida. Mesmo que você ainda não esteja ganhando dinheiro com a literatura, você não vai adiante enquanto não encará-la de forma séria e metódica. Meia hora todo dia? Que seja. Mas faça dela sua melhor meia hora.
{ 6 } Encontre sua voz.
Você vai levar muito tempo. Irá emular uma grande quantidade de escritores que admira. Plagiará descaradamente aquele último livro que o fascinou. Mas um belo dia irá acontecer: sua voz, seu inconfundível estilo de escrita fluirá de suas mãos e você terá total domínio de COMO escrever qualquer coisa que queira escrever. Parece óbvio, mas só então todo texto seu será só seu e de mais ninguém.
{ 7 } Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo.
Isto eu aprendi com a Toni Morrison.
Alessandro Garcia nasceu em Porto Alegre em 1979. Autor de A sordidez das pequenas coisas (Não Editora, 2010), finalista do Prêmio Jabuti, segundo colocado no Prêmio Fundação Biblioteca Nacional, com conto traduzido para o espanhol na Revista Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional.
Participou das coletâneas Assim Você Me Mata (Editora Terracota, 2012), É Assim que o Mundo Acaba (Editora Oito e Meio, 2012), Ficção de Polpa Vol. 3 (Não, 2009), Ficção de Polpa Vol. 1 (Fósforo, 2007; Não, 2008) e Cenas de Oficina (Unidade Editorial, 2000). Escreveu o perfil do escritor Jonathan Franzen para o livro Por que Ler os Contemporâneos? (Dublinense, 2014).
Publicou em revistas literárias como Ficçōes e Cult, teve conto traduzido para o inglês pelo Contemporany Brazilian Short Stories e para o espanhol pelo Cuentos Brasileños de la Actualidade. Foi colunista das revistas digitais Digestivo Cultural, Cronópios, Scream & Yell e Paralelos, no Globo On Line, além de escrever para o Jornal Rascunho, entre outros. Site oficial.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado
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