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Crie o compromisso de escrever. A experiência da oficina de contos me fez concretizar uma lista de contos que pairavam etéreos no porão da minha cabeça, os quais eu teimava em não botar no papel. Por força do encontro semanal, você tem que apresentar um resultado, bater a meta, senão vai perder uma chance que não volta e a semana estará perdida. Você tem o dever de não perder aquela oportunidade, seja do jeito que for.
Nas paredes da empresa do Facebook está escrita a frase: “Done is better than perfect”. Esta é uma das essências da filosofia hacker, propagada dentro da companhia. A palavra hacker não significa apenas a pessoa que invade computadores. Esse é o retrato que a mídia pinta. Entenda-se hacker como uma postura positiva de construir coisas rapidamente, testar as barreiras e interagir com os outros. Faça, teste e observe o feedback.
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Passe pelo feedback. Um dos alicerces da oficina de contos é a rodada de feedback. A prática do feedback semanal, ao vivo, com outros leitores / escritores faz você entender o que dá certo e o que dá errado num conto. Não pode encher de flashbacks, não vale ser descuidado com os PDVs, não dá para achincalhar de palavrões, tanto quanto se gostaria. A partir do feedback a gente senta de novo no computador e melhora o texto. Creio ter lido aqui no blog do Lobão – “o que não exigiu muito esforço para ser escrito não vale muito esforço para ser lido”. A experiência do feedback é mais ou menos assim: são cinco pessoas pensando no seu texto, em vez de uma. Só pela matemática já dá para perceber que é muito melhor.
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Conheça e interaja com outros escritores. Esses caras vão lhe ajudar, acredite. Faça cursos, conheça pessoas, não fique trancado em seu quarto esperando escrever o próximo “O Grande Gatsby”.
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Crie uma metodologia de leitura, faça marcações e as anote num repositório. Na verdade, não vá achar que você vai criar passagens brilhantes do além, que nem poeira cósmica. Outros caras geniais já escreveram tudo o que há para ser escrito. Temos que compreender uma linguagem à base da marreta. Ler muito, muito e muito, até que aquela linguagem comece a correr no sangue. Daí seu texto não parecerá uma tese de doutorado obscura, nem vai ser uma cópia infernal de Nelson Rodrigues. E sim, vai ter a sua cara.
O fato de você reescrever passagens brilhantes de outros escritores faz com que sua memória possa gravar aquelas palavras num potencial nove vezes maior do que ler uma única vez. Então aquele material ficará burilando em sua cabeça e depois de um tempo ele ressurge, de maneira diferente, com outro significado. E claro, se você for utilizar alguma ideia de outro autor, faça a devida citação.
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Não se leve tão a sério. De tanto levar porrada dos concursos, captei que não é o caso de ficar triste se os caras da banca não aprovarem seu manuscrito. O fato de alguém não gostar do seu texto e do seu estilo – desde que ele seja bem trabalhado – significa apenas que aquela pessoa não pertence ao seu nicho de leitores.
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Pense na Internet, cara, preste atenção no que está acontecendo. Se você não pensa nisso, talvez então queira comprar um sítio na Sibéria e viver na boa. Na Internet você pode interagir diretamente com seus leitores, e não precisa passar por um filtro de um crítico ou de alguma editora. Uma chance única de compreender seus leitores. Escolha um nicho, procure onde ele está e aprenda como encontrá-lo. Ainda não descobri como, mas o caminho é esse. Na Internet você pode testar a realidade todos os dias, essa é a postura hacker. Teste a realidade, veja o feedback e melhore. O Twitter, o Facebook e os blogs são ótimos laboratórios.
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Rode bastante por aí. Um escritor precisa de tinta. Se ficar sentado numa poltrona com a boca escancarada cheia de dentes, vai escrever sobre o quê, meu caro e minha cara? Frequente bares imundos, faça viagens destruidoras, tenha um monte de amigos pirados e vá a festivais de rock. Muitas piadas acontecem nessas situações. Encha seu texto de piadas. Alguém vai gostar daquilo.
Uma piada precisa de tempo e trabalho. Kurt Vonnegut dava muito valor a suas piadas e suava a camisa por elas. Mas fazia com que as piadas soassem espontâneas. Falando sobre o Kurt, essa aqui é boa: ele nunca conseguia permanecer num emprego, seu negócio era escrever por conta própria. Uma vez ele tentou trabalhar como jornalista esportivo e o editor pediu para ele fazer uma matéria sobre um cavalo de corrida. O cavalo havia pulado a cerca e fugido do páreo. Kurt passou a manhã encarando o papel em branco e enfim datilografou: “E o cavalo saltou sobre a porra da cerca”. Então entregou a página ao editor e foi embora do jornal.
Eduardo Pastore é gestor público, toca guitarra e é piloto de cachorro. Atualmente, escreve sobre música no blog Tirania da Contingência.
Contribuição originalmente publicada no site Vida de Escritor