7 coisas (capitais) que aprendi na lida de escritor:
{ 1 }
Ler para ter parâmetros e escrever para ter o que chamar de meu e assim aperfeiçoar ou abortar caso a cria se torne indesejada.
{ 2 }
Escritor fora do mainstream deve pensar e se comportar como escritor fora do mainstream. E uma vez aceito pelo mainstream não significa permanência nem, muito menos, que o escritor esteja efetivamente no centro. O mainstream tem sua própria ordem de prioridades para investimento e publicidade de um autor.
{ 3 }
Considero importante que o escritor eleja um único tema para perseguir e se confrontar. Com tantos temas intrigantes, instigantes e fascinantes, o desafio começa aí. Oriento-me pela perturbação de abstrair e trabalhar com todas as determinações de um tema até que se chegue à raiz – Trabalho de uma vida!
{ 4 }
Dostoiévski dizia que para escrever é necessário estar mal, mal, mal… Entendo a proposição do mestre russo não pelo viés do padecimento físico ou sofrimento psíquico; mas no diapasão de que se o escritor não apreender que literatura é conflito – que não é o riso fácil nem a exposição de uma autocontemplação –, não conceberá ‘ficção’ digna do termo (‘fictio’, do latim: criação).
{ 5 }
Não alimentar o desejo (ilusão) de ‘viver da literatura’. Procure resolver as necessidades imediatas e indispensáveis com outro meio de subsistência. Primeiro que, no Brasil, dificilmente alguém consegue ser remunerado a ponto de sobreviver dignamente apenas com direitos autorais (isso seria propriamente ‘viver de literatura’, não?).
Ademais, as referências literárias do escritor, com determinada aspiração, tendem a se inclinar (consciente ou não) para modelos comerciais. E o grande mercado editorial segue recrudescendo na lógica do lucro com retorno imediato, ou seja, cada vez menos disposto ao risco de bancar o novo, de apostar na diferença em relação ao ‘produto’ anterior.
{ 6 }
O indivíduo é o ato, não o que pensa ou deseja ser, e se constrói na medida em que providencia a realização de suas pretensões. Assim, o ato físico de escrever (com o subsequente imperativo ‘reescrever’) necessariamente implica em ocupar o tempo em que se estaria investindo ou desperdiçando em outra atividade.
Não dá pra esperar pelas condições ideais plenas. As imposições da sociedade estão colocadas e não vão dar arrego. Portanto, objetivar o tempo com a escrita (lutar efetivamente com a página em branco) é renunciar a todos os outros compromissos e passatempos da vida cotidiana.
{ 7 }
Aprendi também a inverter a proposição hemingwaiana – “Write drunk, edit sober” –, escrevo sóbrio e edito bêbado. Caso contrário, não largo o texto.
Paulino Júnior é autor do livro de contos Todo maldito santo dia – obra selecionada no Edital Elisabete Anderle, da Fundação Catarinense de Cultura (2013), e premiada pela Academia Catarinense de Letras como ‘Melhor livro de contos publicado em 2014’. Em 2015 lançou o livro-conto Bife a cavalo, para a coleção Coice de Porco (Butecanis Editora Cabocla).
Participou do 5º Festival Nacional do Conto e do e-book Cisco – com conto inédito especialmente para o evento. Atuou como cronista no jornal Notícias do Dia (Florianópolis) de 2014 a 2016. Possui contos publicados em diversos periódicos, antologias de concursos literários e coletâneas – com destaque para O outro lado da notícia (São Paulo: Alink Editora, 2016) e e-book Cobain – em comemoração aos 25 anos do álbum Nevermind, do Nirvana. Vive em Florianópolis desde 2005 e sobrevive afiando faca e tesoura.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado