Alexandre Brandão

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Não escreva por amor, muito menos por amor não correspondido, mas escreva com amor.

{ 2 }

Não espere um convite, essa coisinha nomeada de inspiração, invada o cafofo da escrita sem sutileza, na marra. As madrugadas existem para que se leve a cabo violência dessa natureza. Não é crime.

{ 3 }

Não fique ansioso, se não foi possível escrever hoje, será possível amanhã. Isso é: desde que você tenha escrito ontem e anteontem. Do passado vêm as certezas do escritor, o resto, cerveja com amigos, namoro, cineminha e muita leitura resolvem — aliás, não é procrastinação (mas sabedoria) adiar a escrita por conta da leitura.

{ 4 }

Escreva sem pretensão, sucesso é o que acontece aos outros (probabilidade muito alta). Acrescento: ao escolher a escrita, você (probabilidade também alta) terá feito outra escolha: viver entre os incompreendidos.

{ 5 }

Escreva com o intuito de dialogar com os contemporâneos. Nesse sentido, seja pretensioso e não se importe de falar sozinho grande parte do tempo. Não é loucura.

{ 6 }

Escreva, recolha as sugestões de leitores próximos — evite a família e prefira, precavendo-se contra os invejosos, os que também estão quebrando a cara com esse despautério de ser escritor —, depois afaste-se de sua escrita recente, guardando-a nas nuvens.

Humildemente, mas com determinação, vire e revire pelo avesso um texto antigo. Aja como um assassino ou um deus. Não limpe a faca usada na destrinça, compre outra para aquele texto ainda abrigado nas nuvens. Não se distancie da ternura, essa coisa de assassino ou deus não passa de uma figura para facilitar a compreensão.

{ 7 }

Não escreva por ódio, muito menos por um ódio correspondido, mas escreva com ódio. (A escrita não irá atenuar o ódio, mas o ódio poderá dar vida ao texto).

Escritor mineiro que vive no Rio de Janeiro, Alexandre Brandão é autor de livros de crônicas e de contos publicados desde 1995. Qual é, solidão?, lançado em 2014 pela Editora Oito e Meio, é o mais recente.

Foi vencedor do “Bolsa do Autor”, da Funarte, em 2000, escreve para a revista Rubem e mantém o blog No Osso. Participa do “Estilingues”, grupo que lançou, ao longo de seus 30 anos, três coletâneas de contos de circulação não comercial.

Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado

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