{ 1 } Perseverar é o (único) caminho.
Para o artista ou escritor, muitas vezes a perseverança é a única amiga possível. Não encontrar eco em editoras, eventos, agentes literários, escolas, livreiros, etc., não é nenhum absurdo.
Então o que resta é utilizar esse desprezo, esse silêncio aviltante e avassalador, como combustível para produzir novos e melhores textos. Estar do lado de fora olhando para dentro é um remédio amargo, mas que todo escritor deve tomar pelo menos uma vez.
{ 2 } Escrever é um dom.
O fato de termos a capacidade e a disposição para escrever já é uma bênção, então o que importa se temos um ou mil leitores? Obviamente que o artista quer interagir com o mundo, mas aí recorro a uma frase feita (não me lembro do autor agora): “não é o mundo que precisa do artista, mas o artista que precisa do mundo”.
{ 3 } Um caminho longo e incerto.
Depois de dez anos produzindo, três livros lançados, participação em coletâneas e alguns prêmios literários conquistados, muitas vezes ainda me sinto em uma espécie de “estaca-zero”.
A sensação (amarga) é de que deveria ser algo mais natural conseguir uma editora cada vez que tentamos publicar um novo livro; deveria ser algo mais fácil ter um livro adotado por uma escola; deveria ser mais fácil encontrar caminhos que levassem o escritor a encontrar a sua função social. Muitas vezes parece que não há saída, e essa hora é bem triste.
Então, depois desse tempo todo, aprendi que a gente só sente as correntes que nos prendem quando tentamos nos mexer. Não existe uma sequência lógica para ascender como escritor, e querer cimentar uma “carreira literária” é uma utopia que vai sendo triturada aos poucos.
{ 4 } O valor do fracasso.
Aprendi com Onetti, “se alcançarmos o êxito, nunca seremos plenamente artistas”. Essa frase me acompanha como um amuleto, legitimando os fracassos na hora de escrever um texto e na hora de encontrar um lugar ao sol no mundo enquanto escritor.
{ 5 } Escrever é um sonho, publicar é um pesadelo.
Assim como no mundo animal, no mundo literário o maior engole o menor. As grandes livrarias sufocam as pequenas editoras, o autor (que não encontra outra saída para publicar) assina um contrato onde é explorado pela editora, e assim por diante. No fim, a arte é aviltada de tal forma pelas engrenagens do mercado que não sobra quase nada dela.
{ 6 } Pagando para trabalhar.
O trabalho de escrever é como qualquer outro, requer dedicação, pesquisa, tempo e suor. O justo seria que o escritor recebesse em dinheiro pelo que produz, quer seja um conto para uma revista, colaborações com sites, etc. Entretanto, não é isso o que acontece.
Para piorar, se você não tiver um talento fora de série, vencer algum concurso literário, tiver seu projeto aprovado em alguma lei de incentivo ou tiver um amigo editor, o único caminho para publicar o seu livro é “investir” em algum sistema de autopublicação. Ou seja, de uma certa forma, pagar para trabalhar.
{ 7 } No fim vale a pena.
Desde o dia em que escrevi a minha primeira crônica (sobre o Torino, um time de futebol italiano dizimado em um desastre aéreo), a minha vida ganhou um novo sentido.
O título do texto era “O Torino nunca mais foi o mesmo”, em alusão ao ostracismo no qual o time mergulhou após o falecimento dos seus craques. Coincidência ou não, eu também “nunca mais fui o mesmo” depois daquele dia. Minha vida mudou para melhor: graças ao ato de escrever, finalmente me senti alguém.
Lúcio Humberto Saretta é natural de Caxias do Sul-RS. Publicou os livros Alicate contra diamante (2007), Crônicas douradas (2010) e Lições da barbearia (2013). Em 2015 foi finalista do concurso Brasil em Prosa, promovido pela Amazon e jornal O Globo. Mantém o blog Memórias do esporte. Publicou nas antologias Onisciente Contemporâneo (2016), Translações Singulares (2017) e Não Culpe o Narrador (2018)
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado