{ 1 } Ler muito.
Foi o primeiro aprendizado. Tenho bons leitores na família, então meu interesse por livros começou cedo. Também sou leitora que dificilmente abandona um livro pela metade. Mesmo que eu ache chato ou desinteressante, costumo finalizar. Sei que isso é ruim, porque toma meu tempo com algo pouco prazeroso. Por outro lado, pode ser bom, porque me ensina como eu não gostaria de contar uma história.
Também aprendi a valorizar a leitura calma, prazerosa, apreciando cada palavra ou frase. Alguns livros merecem ser saboreados aos poucos. E outros nos instigam a pensar, fechar a página e refletir sobre o assunto, relacionar com nossas experiências e nossos pensamentos. Já tive que ler algumas obras com prazo apertado, claro. Mas foi um pouco doído não ter tempo para apreciar.
Depois que iniciei as oficinas de escrita (estou na terceira), aprendi a ler de modo crítico. É outra visão, e nos proporciona admirar ainda mais a capacidade dos grandes, como Machado de Assis. Mas, para ser sincera, espero não perder a ingenuidade de um leitor comum, que é livre para se deleitar com o que mais o agrada num texto.
{ 2 } Escrever sobre o que te agrada.
Quando comecei a publicar em meu blog (hoje desativado), me rendi a certos modismos. Acho que é normal, num momento em que você começa a sentir que quer tornar público teus textos, e quer que muitas pessoas te leiam e curtam teu trabalho. Aos poucos, você vai focando no tipo de escrita que te instiga e te agrada.
Acho que escrever para agradar alguém – ou um provável público – acaba virando uma cilada. E não te deixa feliz, no fim das contas. Então, se você gosta de escrever textos eróticos, ou sobre vampiros, ou histórias de amor, dramas pessoais, comédias açucaradas, etc., faça sem medo. Porque escrever, claro, é uma comunicação com o leitor. Mas também é uma comunicação interna, uma reflexão. Desculpa o clichê, mas concordo com a velha frase que diz que se fizermos o que amamos, sempre será uma diversão.a
{ 3 } Ter bons críticos e saber ouvi-los.
É claro que nossas mães, tios, primos e amigos próximos sempre vão nos achar geniais. Não quero dizer que as pessoas que mais nos amam não sejam sinceras. A questão é que torcem tanto por nós que suas opiniões nunca vêm isentas. Este tipo de crítica não podemos levar em conta, infelizmente. A solução é procurar um amigo do tipo super sincero. E, de preferência, alguém que entenda de literatura. Conviver com outros escritores, fazer grupos no Facebook, no Whatsapp… também ajuda. Você pode ficar mais próximo daqueles com quem melhor se identifica e pedir opiniões sinceras.
Trocar textos e impressões com quem entende do assunto garante um excelente aprendizado. E críticas negativas sempre te fazem crescer muito mais que as positivas. Você nunca mais esquece uma crítica negativa contundente. O bom é que você pensará antes de voltar a cometer o mesmo erro. Isso é importantíssimo! Para ser bem sincera, acho que todo o escritor deveria ser muito grato aos seus críticos mais exigentes.
{ 4 } Fazer uma oficina de criação literária.
Quando comecei a escrever, quase tudo o que fazia era por intuição. Algumas vezes funcionava, outras não, e eu não entendia onde estava o problema. As boas oficinas te ensinam as partes estruturais de um bom texto. Classes de palavras que devemos economizar, excessos que precisamos remover (sem apego), a indicação do uso de termos específicos para contar a história da forma correta, e outras “mágicas” que os grandes usam para encantar seus leitores. São detalhes que não se aprende por conta própria, mesmo que você seja um leitor muito dedicado.
Além disso, nas oficinas temos a experiência de receber o feedback de uma pessoa que entende bem do assunto, o professor. Se for um cara bom, ele vai ser certeiro na análise e isso te fará ver teu texto com outros olhos. Outra coisa muito interessante que aprendi nas oficinas é que a primeira versão nunca é a definitiva. O professor Luiz Antonio de Assis Brasil recomenda que os alunos escrevam e fechem o arquivo para reabri-lo após dois ou três dias. Muitos problemas do texto saltarão aos olhos na primeira revisão. Eu gosto de fazer assim, mas não me contento com uma. Geralmente reviso dez, doze, vinte vezes.
{ 5 } Buscar inspiração.
Poucos dias atrás li O gesto inacabado, de Cecília Salles. A autora conta como é feito o estudo da criação das obras, a gênese delas. Identifiquei-me com muitas coisas que ela relata. Tudo o que nos cerca serve de inspiração, e é o nosso olhar que vai decidir como será usado, se num conto, numa cena de romance ou numa poesia. Ela fala de anotações em diários, trechos rabiscados em cadernos, cartas (hoje temos o e-mail) onde autores trocavam ideias, situações cotidianas que mostram a melhor forma de contar.
Gosto de anotar muitas coisas, sempre tenho um bloquinho. Na época em que escrevi meu romance (ainda não publicado), eu tinha momentos de inspiração nas piores horas: geralmente por volta das 4 horas da manhã. Eu ficava muito nervosa com aquilo, porque me fazia perder o sono, e um bom sono é uma coisa que prezo muito. Mas não adiantava, a inspiração ficava rondando, rondando e o sono ia embora. Eu era obrigada a levantar e escrever.
Outras vezes estava na rua, dirigindo, ou trabalhando, atendendo um paciente, e vinha uma frase perfeitinha, que se encaixava com precisão na situação que eu queria contar. Eu sempre dava um jeito de pegar o bloquinho e anotar, porque muitas vezes a frase vinha e logo depois se perdia. Se eu fosse um pouco mística (eu tento ser, mas na verdade não sou) eu acreditaria que algum bom espírito estivesse me soprando as tais frases perfeitinhas.
Sei que disciplina é importante e que muitos autores não acreditam em momentos de inspiração. Mas vou teimar aqui, e dizer que comigo é assim. Se eu me sentar agora e falar: venha Irka, está na hora de escrever, não vai rolar. Ela vem a hora que bem entende, e meu trabalho é fazer com que seja bem-vinda.
{ 6 } Não pegar tão pesado.
Se formos comparar nossos textos com os de nossos autores favoritos, é possível que jamais publiquemos uma linha sequer. Gabriel García Márquez é o escritor que mais amo! Sou do tipo de leitora apaixonada mesmo, das que se emocionam ao ler um trecho bonito. Por isso demorei tanto a tornar público o que escrevia. Porque nada chegava aos pés da prosa de meu grande mestre. E é provável que eu nunca chegue, mas aprendi a aceitar minhas limitações. Costumo dizer que minha aspiração atual é saber contar uma história com competência.
{ 7 } Pegar pesado.
O fato de sabermos que dificilmente nos igualaremos a nossos mestres, entretanto, não deve ser motivo de acomodação. Pelo contrário, é sinal de desafio. A boa escrita é um aprendizado, depende de dedicação, treino e muita leitura. Trocar ideias com outros escritores, saber tirar o melhor de cada crítica e, principalmente, exercitar a autocrítica é o caminho certo. Pedro Gonzaga, meu professor, diz que se você não gostou do texto que escreveu, seu leitor certamente também não apreciará. Guardo essa informação como uma certeza, uma regra essencial.
Irka Barrios é pseudônimo de uma cirurgiã dentista formada pela UFSM, com especialidade em Ortodontia, pela CIODONTO. Fez a primeira oficina em 2013 no MARGS, com o professor Alexandre Carvalho. A segunda oficina, na Palavraria Livros com o professor Pedro Gonzaga (2013 até hoje). E a terceira com o professor Assis Brasil, na PUC-RS (2015). Também fez oficina de Ficção Histórica, com a professora Gabriela Silva (2015), na Associação Riograndense de Imprensa, e o curso Clássicos da Literatura, também com a professora Gabriela Silva (2014), na Palavraria Livros.
Participou do Ciclo de Poetas da Língua Espanhola, no Café Fon Fon, onde leu uma poesia de Gioconda Belli, em 2014. Participou do Concurso Brasil em Prosa 2015 com o conto O coelho branco, o qual foi agraciado com a segunda colocação. O conto foi publicado no jornal O Globo e está disponível na plataforma KDP da Amazon. Um dos prêmios, a tradução para o inglês, publicada pela Amazon (The White Rabbit).
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado