Aproveitando a equivalência numérica, farei uma associação entre sete coisas que aprendi e os pecados capitais.
{ 1 } Vaidade.
Convenhamos: um escritor não busca o anonimato. Há maneiras mais eficientes para isso – não escrever, por exemplo. Quem escreve quer ser lido, é uma equação simples. E não há nada de mal nisso. Escrever é compartilhar, dialogar com a imaginação dos leitores, que vão construindo seus textos a cada linha. Não é errado ficar feliz com o reconhecimento.
Alguns escritores, entretanto, se perdem por aí. São levados pelo que entendem ser o sucesso (para alguns uns milhares de acessos no blog, para outros um Jabuti) e acabam virando personagens de si mesmos: escritores caricaturais que se creditam mais do que seria de bom tom. Se o sucesso chegar para você (e tomara que ele venha para todos nós), segure a onda. Vaidade é um tóxico que não ajuda na qualidade de seus textos.
{ 2 } Preguiça.
No que diz respeito ao ofício literário, não há espaço para a preguiça. Tirando a parte dos insights, quando as ideias brotam na sua cachola, as demais etapas do nosso trabalho não são lá das mais emocionantes. É preciso sentar na frente do computador, desligar das tentações do mundo ao redor, da internet, e desenvolver o texto. Porém, a parte mais difícil vem depois: ler, reler, revisar. E é fundamental.
É preciso lapidar, reestruturar, inverter. E corrigir, evidentemente. Às vezes, aquela mudança que torna mais harmônico seu poema vem lá pela décima quinta leitura. Pode ser o diferencial do texto. Por mais que haja uma visão romântica do artista como a cigarra da fábula, há muito trabalho de formiguinha no ofício literário.
{ 3 } Gula.
Sobre a prática da leitura, não tenha dúvidas: seja um guloso. Devore clássicos, tenha contemporâneos para a sobremesa e não ignore as surpresas, que podem ser um ótimo aperitivo. Ler outros autores só vai ajudar no seu desenvolvimento como escritor. Aumenta seu léxico. Te faz mais feliz.
{ 4 } Luxuria.
Seja um pervertido, um insaciável no que diz respeito a buscar inspirações em outras artes. Não é porque jogamos no time dos escritores que vamos ter reservas de dialogar com artes plásticas, cinema, futebol, o que for, né? O mundo mudou, não dá para ser um pudico. Inclusive, no nosso próprio campo, seja um devasso e experimente novos gêneros, novas temáticas. A luxúria literária pode ser um belo pecado no seu desenvolvimento como escritor.
{ 5 } Avareza.
Viver de literatura é possível. E não me refiro somente aos escritores que tem bons contratos com grandes editoras. Eles não representam a maioria dos casos. Tem muita gente nova batalhando, doando seu máximo para sobreviver no cenário literário, atuando de uma forma mais ampla no mercado editorial.
Eu, particularmente, não me encaixo nessa categoria. Como todo autor, quero ser lido, mas por escolhas pessoais não tento viver do que escrevo. Mas, observando experiências alheias, posso dizer: é possível viver de literatura. Só não acredite que será uma trilha simples, com tijolos amarelos, que o levará para lançamentos em livrarias-cafés de Paris.
{ 6 } Inveja.
Possivelmente você verá companheiros de ofício literário obterem maior reconhecimento do que o seu. E vai pensar, “poxa, eu também gostaria de estar ali”. Não os inveje. Inveja é um péssimo sentimento, que não acrescentará em nada na sua formação. Já a humildade, a consciência de que você não é um predestinado e, em consequência, tem muito a aprender, só vai contribuir.
Deixe a rivalidade para Saramago e Lobo Antunes, Vargas Llosa e García Márquez. Faça do sucesso alheio um aprendizado, resumindo.
{ 7 } Ira.
Nem sempre as coisas sairão como desejado. Talvez seu original não consiga aprovação em algumas editoras, ou, se já publicado, não repercuta como você gostaria. É difícil ser um escritor que não é consagrado. São inúmeras as portas fechadas que encontramos. Somos muitos e o lugar ao sol é disputado. Frustrações ocorrem e acessos de ira, vontade de chutar tudo para o alto e levar uma vida comum, longe da criação literária, serão provações. Resista a elas. Deixe a ira para seus personagens.
Luís Fernando Amâncio nasceu em Três Corações (MG) e se mudou para Belo Horizonte para cursar História na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesta instituição concluiu mestrado com dissertação sobre as relações entre o movimento de Cinema Novo e política. Já participou de antologias de contos, crônicas e poemas. É autor de Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas (LiteraCidade, 2014). Atualmente, participa do projeto Digestivo Blogs, do Digestivo Cultural.
Contribuição originalmente publicada no site Escriba Encapuzado
Muito bons esses tópicos.