Há alguns meses, o Escriba Encapuzado entrou em contato comigo pedindo minha participação no projeto 7 coisas que aprendi. Demorei um bocado, não só por conta da minha vida fora do papel, e por isto devo desculpas ao Escriba.
Eu evito ao máximo publicar um texto sem que mais alguém dê uma espiada (considere esta outra lição). E, neste processo, descobri que o novo site da Terracota Editora estava para sair. Mais por coincidência do que por caso pensado, decidimos publicar juntos este texto. Não deixe de conhecer o site da Terracota.
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Escrever não ensina a escrever melhor. Assim como o ato de respirar não ensina a respirar melhor e caminhar não cria um melhor caminhante, escrever, escrever apenas não é garantia de nada. É preciso reflexão ou tesão, uma mistura das duas coisas, além de um objetivo, saber onde se quer chegar.
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Desnecessário escrever para aprender alguma coisa. Ler e observar são melhores alternativas. Aliás, pode-se aprender com tudo em sua vida. Não só na sala de aula, mas no trabalho, nos esportes, com os amigos, parentes, na condução. Efetivamente você aprende ou apreende, sem notar. Novamente, é preciso reflexão, algo para amarrar o que está acontecendo.
E se você decidir escrever sobre o que está acontecendo, isto acaba sendo mais importante: não seja uma máquina de frases feitas e lugares comuns. Os flocos de neves são únicos, as digitais são únicas, mas são, essencialmente, a mesma coisa. Traga algo novo.
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O que aprendi de mais importante com escrever foi o Teorema da Incompletude, do matemático Kurt Godel. Culpa de uma série de coincidências: um dia, com mais tempo ou mais saco, explico como. Mas o caso aqui é o seguinte: não se limite à literatura.
É natural que o seu texto exale o odor de sua vida. Quem lê muito transpira livros. Não se limite à literatura. Hoje muitos afirmam (ou sentem, simplesmente) que a literatura é irrelevante. Talvez seja mesmo, sob certo ponto de vista.
Culpa de quem faz dela instrumento para diversão. Culpa de quem faz dela plataforma para sabedoria. Se querem tornar a literatura válida ela precisa ser sábia, ser divertida, mas façam-na viver, façam para a vida.
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Pesquise muito. No papel E na vida. E nem sempre a favor do que você pensa, gosta ou acredita.
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Gostaria de dizer mais coisas, mas eu mal comecei a escrever “profissionalmente”. Não gosto de cristalizar métodos ou declarar verdades, ainda mais na possibilidade sempre real de nunca mais escrever a próxima linha.
Acho que a postagem do Kastensmidt consegue chegar mais direto ao ponto e dizer coisas mais interessantes. Ou o famoso discurso de Neil Gaiman.
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Tenho dúvidas que se possa ensinar algo… [Desconfie de você].
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… Se a pessoa não quiser mesmo ouvir [Desconfie do leitor].
Isto pode soar meio cafona, mas foda-se. Meu pai vivia declamando algo que se presta bem ao que estamos dizendo:
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar.” – Antônio Machado
Brontops Baruq é o pseudônimo de alguém nascido em São Paulo no ano de 1973. Ganhador do Concurso Hydra com o conto (História com desenho e diálogo).
Publicou nas coletâneas Brinquedos Mortais, da Editora Draco e Cartas do Fim do Mundo e Alterego, ambas pela Terracota. Participou de vários números do Projeto Portal, capitaneado por Nelson de Oliveira.
Seu primeiro livro solo é a coletânea de contos, O Grito do Sol sobre a Cabeça (Terracota). Site oficial.
Contribuição originalmente publicada no site da Terracota Editora.
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