{ 1 } Que ser escritor é ser também um leitor voraz.
Parece-me impossível que alguém possa alcançar um nível de excelência na elaboração de textos de ficção sem devorar as grandes obras da literatura universal. E uso o termo devorar no sentido antropofágico: devorar os textos dos grandes autores (começando lá dos gregos até os contemporâneos, na medida do possível) e assimilar a sua força criativa, para encontrar, em seguida, seu próprio caminho, sua própria energia, sua própria alma.
{ 2 } Que escrever é um ato de entrega total.
Como leitor e escritor, sou sistematicamente atraído por aquelas obras em que posso sentir a entrega do autor na sua elaboração. São obras em que podemos sentir a alma do autor pulsando ali. Há um constante estado de febre, de entranhamento na existência das personagens que não nos deixa emergir do texto ilesos. Penso em textos como os de Machado de Assis, Dostoiévski, Kafka, Faulkner, Clarice Lispector, Dionélio Machado, Raduan Nassar etc.
{ 3 } Que escrever não significa, necessariamente, publicar.
Noto, às vezes, a pressa de alguns jovens autores em publicar seus textos. Textos esses que são, do ponto de vista literário, ainda muito fracos. Tive, confesso, essa pressa em alguns momentos. Sorte que me faltou a oportunidade para publicar alguns textos que eu pensava estarem prontos. Eram, posso constatar hoje, bastante ruins. Serviram, obviamente, como exercício para que eu chegasse a uma capacidade maior de entender quando o texto está realmente pronto para ser publicado.
{ 4 } Que o ato de escrever demanda tempo, paciência e cuidado com os aspectos gramaticais do texto.
“A pressa é inimiga da perfeição.” Esse dito popular assenta-se bem à atividade de escrever. Embora eu não ache que tudo deva convergir para a busca da perfeição técnica (prefiro a busca da intensidade, do visceral), creio que é preciso ter em mente o seguinte: o ato de escrever pressupõe um mínimo de domínio das regras gramaticais.
Daí a importância do escrever e reescrever, da correção (e aqui entra também a figura do revisor) para evitar que erros gramaticais graves tirem o mérito do texto. Costumo escrever o texto e guardá-lo por um tempo, para depois retomá-lo e submetê-lo a um novo processo de escritura. E isso vai, às vezes, até a exaustão, até não conseguir olhar mais para o texto ou não conseguir enxergar nele mais nenhum erro gramatical. É o que costumo chamar de ponto cego da escritura. A partir desse ponto, só um revisor pode dar jeito.
{ 5 } Que a literatura cumpre um papel importante na vida do leitor.
Ainda que seja apenas uma obra de entretenimento, o texto deve marcar a vida do leitor, fazendo com que ele se desloque, nem que seja um centímetro, daquilo que era para um outro estágio de vida, onde possa se reconhecer mais inteiro, com visão de mundo ampliada. Se isso não acontece, tenho como perdido o tempo dedicado a essa leitura. (Bom, vão dizer que literatura de entretenimento tem apenas esta função: entreter. Mesmo assim, penso ser possível ir um pouco mais além.)
Creio que as grandes obras literárias cumprem muito bem esse papel, tirando o leitor do seu eixo de comodidade e deixando-o num espaço tomado pela reflexão e pela dúvida.
{ 6 } Que escrever engloba tanto um prazer, uma satisfação, quanto um esforço permanente para superar a falta de assunto.
Não vejo o ato de escrever, de criar, apartado da sensação de prazer ao sentir-me saciado quanto à expressão de minhas angústias, incertezas, buscas de verdades e novas maneiras de ver a realidade. Um texto pronto significa uma vitória contra a iminência de fracasso. Daí a sensação de alívio e de plena satisfação de que me vejo tomado ao finalizar uma obra literária.
Mas até chegar a esse ponto de satisfação, de quase gozo, houve um esforço tremendo, que pode ter se iniciado com a procura do assunto (caso não me tenha chegado assim numa espécie de iluminação) e se intensificado com a ação de trabalhá-lo até a exaustão. Digamos que, à maneira de João Cabral de Melo Neto, eu gaste 10% de inspiração e 90% de transpiração nesse processo de criação literária.
{ 7 } Que escrever não é fácil, mas publicar e fazer o livro acontecer é mais difícil ainda.
Mesmo com todos os meios que o autor tem hoje para divulgar o seu livro, não é fácil fazer com que ele ganhe visibilidade. Há que se enfrentar a grande quantidade de livros que chega ao mercado todos os dias e o grande esquema de divulgação dos best-sellers. Se o seu livro não se enquadra nesse esquema, repercutirá muito pouco. E para um escritor não há nada mais desanimador que esse silêncio em torno da sua obra.
O que lhe resta é continuar escrevendo e buscando as vias mais democráticas para divulgar o seu livro. Falo, obviamente, da internet. É nesse espaço que o autor pode fazer ainda com que sua produção literária apareça para um público maior. É nesse espaço que procuro divulgar com mais frequência os meus escritos.
Geraldo Lima é escritor, professor e dramaturgo. Tem alguns livros publicados, entre eles Baque (contos, LGE Editora), Tesselário (minicontos, Selo 3 x 4, Editora Multifoco) e Trinta gatos e um cão envenenado (teatro, Ponteio Edições). É colunista dos sites O BULE, Dona Zica tá braba e Portal Entretextos. Bloga ainda em Baque.
Contribuição originalmente publicada no site Vida de Escritor